sábado, 2 de dezembro de 2017

Jordy - 69



Saí de São Paulo com exatos 8Kg de bagagem e isso era tudo que eu tinha pra sobreviver durante quatro dias em terras desconhecidas. O aflito de dar merdinha extraviando esse único bem que eu possuía era gigantesco e foi praticamente a única coisa com a qual eu realmente me preocupei de verdade nesta viagem. Muitas vezes aceito de boa não ganhar algo, mas fico extremamente desiludido da vida quando perco um pouco que seja de algo que tenho, principalmente quando esse algo de alguma forma é essencial para mim e, no caso, esses 8Kg de bagagem eram e eu não podia perdê-lo.

Obviamente na ida a preocupação era maior, pois lá em meu destino eu não possuía nada para substituir o que quer que fosse, mas como tudo aconteceu tão certinho, me deixei levar e a preocupação meio que passou batida, já na volta... Me preocupei em dobro com o susto que levei na esteira de bagagens.

Ao sair do voo, o comandante informou que as malas estariam disponíveis em uma determinada esteira, mas ao chegarmos lá, o voo anunciado no letreiro era outro, esperamos e quando mudou a informação, a numeração e trecho eram outros nada a ver com o nosso. De repente um passageiro observou que nosso voo estava sendo anunciado em outra esteira bem mais a frente, fomos até lá e realmente era a nossa. A esteira estava vazia e desligada, esperamos e o carro com as bagagens demorou a chegar, quando chegou, podíamos ver o funcionário descarregando nossas malas (sem cuidado nenhum) e a aflição de todos foi diminuindo conforme suas respectivas malas iam aparecendo, menos a minha, pois eu estava na “boca” da esteira e com visão atenta e privilegiada do descarregamento, assim, pude ver quando o rapaz simplesmente fechou a caçamba, entrou no carro e foi embora “sem colocar” minha humilde bagagem na esteira.

Completamente paralisado pelo choque, vivendo em silencio um desespero inexpressível, fui vendo um a um pegar sua malinha e sair feliz e fiquei ali desconsolado me perguntando por que depois de tudo que vivi isso tinha que terminar assim, até que, no momento em que eu estava prestes a me vez sozinho naquela esteira esperando por algo que não ia chegar, um passageiro retira sua mala de um montinho e lá no meio, na escuridão, como um sobrevivente que aponta entre os escombros, minha preciosa piscou pra mim.

Fiquei numa raiva!


Nenhum comentário:

Postar um comentário